sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Mais uma campanha salarial frustrada



Balanço da campanha salarial 2011

 
A campanha salarial 2011 terminou mais uma vez com uma sensação de frustração. Desde o início da campanha até o final da greve o controle férreo da Articulação/PT e seus satélites impediu que os bancários tivessem uma real participação e mudassem os rumos da campanha.
A preparação da campanha acontece em eventos superestruturais, viciados, sem a participação da base. As Conferências são burocratizadas, repletas de dirigentes sindicais afastados há anos dos locais de trabalho, não se submetem a assembléias, aprovam uma pauta rebaixada, não tiram nenhum calendário de luta e constituem um comando de negociação sem representantes de base. A deflagração da greve acontece sem a que haja real mobilização, sem que haja envolvimento da base, sem que haja atividades preparatórias, reuniões, plenárias, assembléias, atos. Ao invés disso, a diretoria faz atos tipo “kinder ovo”, ou seja, reúne de surpresa alguns dirigentes na frente das agências para tirar foto e dizer que está “mobilizando a categoria”.
A greve não é realmente organizada, não há piquetes por região e comandos de greve diários em que os ativistas se reúnam e decidam quais locais paralisar. A greve segue sendo de fachada, ou seja, uma faixa do sindicato na frente das agências e os bancários trabalhando no seu interior. Diretores do sindicato negociam com os gerentes em quais agências e quais os dias vão passar. Bancários são deslocados dos seus locais para trabalhar em contingências em outros postos. Há agências em que os gerentes “liberam” caixas e escriturários para a greve, fechando a agência para os clientes de baixa renda, atendendo os de alta renda e batendo metas. Essa greve de fachada não afeta os lucros dos bancos, pois não paralisa os negócios nem as operações via internet, caixas eletrônicos, correspondentes bancários, etc.
A greve segue tendo um número importante de trabalhadores paralisados, pois as condições de trabalho são cada vez piores e o adoecimento avança. Mas os trabalhadores seguem participando em número reduzido dos piquetes, assembleias e atividades de greve, pois vêem pouco sentido em participar de uma campanha que por todos esses elementos acima permanece sob controle da burocracia. Os trabalhadores que participam do movimento, além de enfrentar os banqueiros, o governo, o judiciário, a repressão, a mídia, ainda tem que enfrentar a própria direção do sindicato. As assembleias são burocratizadas, não se abre direito a falas, não se permite fazer propostas, não se coloca as propostas em votação, não se permite defender as propostas e por último, quando as propostas das oposições ganham uma votação, a mesa não reconhece o resultado. Na assembleia do dia 5.10, depois de muita insistência e muita luta os bancários da base puderam apresentar propostas, que foram defendidas pelas oposições e ganharam as votações. Foram aprovados encaminhamentos organizativos para fortalecer a greve: assembleias diárias unificadas no horário das 16:00 para barrar os fura-greves, nenhum acordo que tivesse desconto ou compensação das horas, entre outros. Entretanto, a mesa não reconheceu o resultado e encerrou a assembleia de maneira extremamente autoritária, com direito a provocações e tumulto da sua claque contra os grevistas, conforme vídeo no youtube (ver http://www.youtube.com/watch?v=A_w2L9zp81U&feature=mfu_in_order&list=UL e http://www.youtube.com/watch?v=kx8sWne6OuM&feature=mfu_in_order&list=UL).
Estava surgindo nas assembleias um processo de auto-organização dos bancários, que se reuniam em plenárias com dezenas de ativistas depois que a mesa encerrava a assembleia. Na plenária do dia 5.10 foi tirado um manifesto dos bancários independentes e grupos de oposição denunciando o crime da diretoria contra a democracia operária, entre outros encaminhamentos para garantir o cumprimento do que havia sido votado. Para impedir que novas rebeliões acontecessem, a diretoria somente chamou nova assembleia 12 dias depois, em 17.10, no horário das 18hs e separando BB, CEF e privados, ou seja, desobedecendo expressamente o que havia sido votado no dia 5. Isso permitiu trazer os fura-greves em massa para aprovar uma proposta rebaixada e encerrar a campanha, exatamente como nos anos anteriores.
O comportamento da diretoria não é acidente, engano ou omissão, mas o resultado deliberado de uma linha de atuação, que consiste em perpetuar o cupulismo, a colaboração de classe com a patronal e o governo, exatamente pelo fato de que a direção sindical está subordinada a um partido político e não aos trabalhadores, tudo isso alicerçado numa estrutura sindical arcaica e estatizada.
Todos os elementos desse tipo de campanha de fachada tem sido insistentemente denunciados e combatidos pelo Coletivo Bancários de Base desde os anos anteriores, nos nossos panfletos e nas nossas intervenções. Entretanto, os outros coletivos que se reivindicam como oposição (Avesso-Intersindical e MNOB-Conlutas), aceitam acordos com a diretoria para fazer uso do microfone, mas ao falar se omitem na denúncia dos elementos que poderiam questionar o controle da burocracia sobre a campanha. Inclusive na assembleia final esses grupos fizeram uso da palavra, mas não denunciaram o desrespeito às deliberações do dia 5.10, conforme manifesto que esses mesmos grupos haviam assinado. Além do Coletivo Bancários de Base apenas os companheiros do piquete da 7 de abril batalharam por um funcionamento democrático que desse aos bancários o controle da campanha.
Para impedir que nas campanhas futuras sejamos retirados da luta sem que tenhamos lutado de verdade, precisamos começar desde já a preparação da próxima campanha salarial. Não há outra forma de termos uma campanha salarial de verdade que não seja com a participação dos bancários e a sua organização a partir dos locais de trabalho, o que tem que acontecer o ano inteiro, não apenas as vésperas da data-base.


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